sexta-feira, 14 de março de 2008

Cultos & Culturas de… José F. Pereira Borges*

Os estudos artísticos e culturais compõem as margens do caminho para a beleza. Desvendam-nos o esplendor da verdade das coisas. O sentimento é uma encruzilhada de arte e de cultura. É claro que a ciência é o motor do progresso, isto é, representa a habilidade humana para melhorar os instrumentos disponíveis à realização da vontade humana. A ciência, “grosso modo”, consiste na capacidade de nos servirmos do peso, da conta e da medida; mas, o sentimento!? O sentimento é consistente através da arte e da cultura. Em termos lógicos, a ciência está primeiro, e depois a arte e a cultura. Mas em termos reais a arte e a cultura precedem a ciência. Para o ser humano, o sentimento da beleza é certamente mais urgente do que a ciência; até nas civilizações nascentes, a arte e a cultura como sua expressão exercem-se antes da análise científica. Não estamos a dizer que a ciência não é muito importante; mas não há dúvida nenhuma que a investigação científica sobre a natureza e sobre a vida é iluminada pelo encanto que nas coisas brilha. A vida feliz é sempre um encontro com a beleza. Tenho dito. * O convidado é Professor Jubilado da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa.

3 comentários:

Joana disse...

Concordo.
Apenas quero deixar um acrescento, relativamente à dicotomia arte e ciência. Julgo a arte como nada tendo a ver connosco. È algo que nos ultrapassa. È como um vício. O vício é aquilo que nos afasta de nós, manifesta cegueira. A arte é alimentada pelo vício. Nasce em nós, é certo, mas depressa se esvai. Aliás, como já alguém o disse, as únicas coisas belas são as que nada têm a ver connosco. Tal como a arte.
Nasce em nós, esvai-se e transpõe-se na natureza. È talvez por isso que ela nunca é fiel à natureza e felizmente assim o é. Não como dizia Aristóteles que a arte é “mimesis” da natureza. È uma falácia crer nesta suposição. Senão reparemos: cria-se na natureza, mas não a reflecte, nem a procria, transforma a natureza. Mas atenção não que a natureza imite a arte. Primeiro vem a natureza depois a arte, não a sua imitação, mas sim a imaginação de outra natureza. E é no culminar deste último ponto que surge a “katharsis” da natureza. É aqui que se afasta de nós e nada tem a ver connosco. Já a ciência quer se factual, queremos pertencer-lhe e não a usar como um escape da realidade. Talvez a ciência se transforme em arte quando ousa quantificar o valor da sua beleza.

Anónimo disse...

Belas estas palavras «a vida feliz é sempre um encontro com a beleza».
Nas poucas palavras muito ficou dito acerca da essência do curso de Estudos Artísticos e Culturais, do qual me orgulho de ser “aprendiz”. E no meu entender “ ser aprendiz” é um estado de graça, tanto mais perfeito quanto mais clara e bela é a fonte de onde bebemos o conhecimento.
O sentimento é humano, a arte é esperança, a cultura um rio composto de inumeráveis gotas gravadas com cada acto de humanidade desde os primórdios do homem.
Sim, urge despertar o mundo do encantamento da ciência, que não é mais do que um instrumento. Reaprender a pureza, a olhar o que nos rodeia, livremente, abertos ao “brilho das coisas” e prontos a partilhar, a criar, a renascer...

Conceição Oliveira

Anónimo disse...

Ciência! Beleza e Arte!

Sem querer entrar por reflexões filosóficas, eu diria que, a beleza evidencia-se na forma como contemplamos uma obra de arte, assim como, a própria Natureza, a qual, é para mim, a mais sublime de todas as artes.
A sua essência primordial antecede todos os sons, cores, aromas, que possamos inventar, imaginar, criar na mente do mais dotado dos seres humanos. Por isso, a designação “ a vida feliz, é sempre um encontro com a natureza”.
Ninguém infeliz consegue desvendar a beleza que a Natureza encerra e espelha perante nosso olhar, muito menos, descobrir numa obra de arte, a minuciosidade, a mestria, que o homem usou para lhe dar vida. Nesse sentido, a felicidade é sinónimo de beleza!




Há porém uma diferença entre “beleza” e “arte”.
Como disse, a Natureza encerra um mar infindo de beleza, mas não evidencia uma obra de ate. Isto, porque o seu criador, foi o Ser Maior, o Omnipotente!
É aqui que entra a ciência: identificar e separar o belo da arte. O belo é felicidade. A arte, é a ciência, a sabedoria que o ser humano adquiriu ao longo dos tempos, e, através da qual deu vida, forma, a novas vidas, com as quais preenchemos e embelezamos nosso olhar.

Amélia Fernandes