Centremos, primeiro, a nossa atenção nos seres humanos. A samaritana é uma jovem que vem à fonte, bonita, elegantemente vestida. Repare-se no pormenor da cintura subida. Mulher sedutora, já tivera cinco maridos, e o que tinha então não era dela.
De acordo com o evangelho, Cristo está sentado, descansando, mas aqui veste à maneira de peregrino: chapéu na cabeça, bordão na mão direita, calçado leve e alforge a tiracolo. Está de passagem. Caminha, evangelizando.
O cão, também repousando, do lado de Cristo, não será apenas um pormenor decorativo. Simboliza a virtude da fidelidade, precisamente o que Jesus, conhecedor da psicologia feminina, promete à Samaritana: um amor eterno, uma fidelidade perfeita.
A paisagem em que se desenrolou a cena evangélica não deveria ser tão verdejante. Aqui se revela, porém, outra originalidade da pintura. Vemos árvores frondosas, arbustos, verdura pelo chão, aves voando, um palácio, representando a cidade. Vemos, não um poço, mas um fontanário barroco com golfinhos na base e ostentando, no alto, um pequeno Cupido. À maneira arcádica, combinando tradição greco-romana com a mensagem cristã, o artista situou o episódio num ambiente iconograficamente próximo das representações do Jardim do Amor.
Ao fazê-lo, captou o essencial da cena. O episódio da samaritana é, precisamente, a promessa de uma água que mata para sempre a nossa sede de amor, de um amor absolutamente perfeito, por isso mesmo imortal. É a promessa do regresso ao Jardim do Éden.
O Prof. Luís da Silva Pereira lecciona Iconografia no Curso de Estudos Artísticos e Culturais
da FacFil / UCP-Centro Regional de Braga
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