Texto da apresentação da obra
Viajar com Tomaz de Figueiredo (Porto, Caixotim / Ministério da Cultura, 2008), na Casa de Casares, Arcos de Valdevez.
1. Apresentação inicial
Mandam as elementares regras de cortesia saudar os anfitriões desta casa (Srª D. Maria Antónia de Figueiredo e Sr. Dr. Santos Loureiro), bem como os demais convidados deste evento. De entre os presentes, permitam-me destacar três figuras institucionalmente envolvidas neste louvável projecto editorial: a Srª Drª Helena Gil, Directora do Ministério da Cultura para a região Norte; e o Sr. Paulo Samuel, editor da Caixotim, co-editores da obra; bem como o Sr. Presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, Dr. Francisco Rodrigues Araújo, entidade apoiante da edição.
Um bonito livro como este dispensa qualquer apresentação, pois fala por si mesmo, através da palavra eloquente de vários autores e da impressiva fotografia de António Pinto. A fazer-se algum tipo de intervenção no seu lançamento, deveria ela ser confiada a um especialista na obra de Tomaz de Figueiredo, que obviamente não sou; ou ainda a descendentes directos, pela riqueza da memória e dos testemunhos vivos que nos podem partilhar.
Apesar desta ressalva, cumprindo a função de que, por simpatia, me incumbiram; e tentando fazê-lo do modo mais competente, creio que o momento é adequado para três considerações rápidas, a pretexto desta obra e do escritor que aqui nos convoca: primeiro, sublinhar a pertinência do
conceito que está por detrás deste projecto editorial; segundo, salientar as mais notórias qualidades desta
obra que acaba de ser publicada; e terceiro, reiterar a singularidade do
autor que a todos nos congrega neste agradável momento de convívio; e ainda para concluir a valência deste tipo de roteiro do ponto de vista literário e educacional, mas também turístico e cultural.
2. Conceito: “Viajar com… os caminhos da literatura”
Esta obra insere-se num projecto da responsabilidade da Direcção Regional da Cultura do Norte (DRCN) do Ministério da Cultura, presidida pela Srª Drª Helena Gil, assessorada pelo Dr. João Luís Sequeira Rodrigues. E surge na sequência de sedutoras experiências, que muitos de nós já experimentámos algum dia – viajar fisicamente pelos espaços habitados ou descritos na obra de um escritor, em passeios e itinerários, de natureza cultural, memorialística e sentimental.
Como bem explicitado no conceito que lhes está subjacente, nestes roteiros literários e culturais, pretende-se viajar com e pelos caminhos da literatura. Viajar pelo património paisagístico, histórico, imaterial que nos rodeia, através do olhar privilegiado dos escritores que aí viveram, escreveram, amaram e morreram.
Viajar com os escritores é um modo de vivificarmos as nossas raízes históricas, culturais, literárias e linguísticas. Viajar com a literatura é, assim, uma forma ímpar de conhecimento e de fruição; um modo de enriquecer o nosso imaginário colectivo e de solidificar o sentimento identitário enquanto povo (1).
Esta ideia feliz da DRCN – de nos propor viagens pela mão experimentada e luminosa dos escritores como Tomaz de Figueiredo – materializou-se numa metodologia eficaz que preside à estrutura de cada um destes atraentes roteiros – introdutoriamente, uma sintética apresentação
do homem e do escritor, em rápidas considerações contextuais e cronológicas. Logo de seguida, destacam-se três secções intimamente articuladas: i) a valorização dos
espaços de inspiração em que cada autor nasceu, viveu e morreu, isto é, os espaços que naturalmente moldaram a germinação da sua obra, desde o local de nascimento aos lugares de convívio e de trabalho; ii) os espaços que se projectam directamente na
topografia literária de cada escritor, através de descrições ou impressões que nos permitem uma sedutora viagem; iii)
nas entrelinhas da vida e da escrita de cada escritor, é possível destacar uma ou mais facetas marcantes da sua criação.
Deste modo, procura-se associar, de forma dinâmica e incentivadora, a literatura de vários escritores ao conhecimento e à valorização do património da região nortenha, seja ele histórico, paisagístico, imaterial, gastronómico, etc.. Isso mesmo acontece com a obra extensa do autor do romance
A Toca do Lobo.
O Alto-Minho é o chão do escritor hoje evocado. Por conseguinte, o pensamento que está subjacente a este conceito e projecto é o da relação umbilical do homem com a terra – no caso presente, Arcos de Valdevez, “terra do [seu] coração”, como lhe chamou Tomaz de Figueiredo. Por isso, nos decassílabos brancos e heróicos de
Viagens no Meu Reino (1968) – longo poema narrativo dedicado ao fraterno amigo e poeta Fausto José – Tomaz de Figueiredo evoca sentidamente um longo itinerário, entre um turbilhão de memórias, de ambientes, de cenários e de personagens:
Fausto, vais passear no Rio Vez,
O meu rio, aquele que embalou
A meus amores, meus versos e meus barcos,
E não Letes, mas Rio da Lembrança,
Rio do Eterno, Rio da Saudade,
Rio da Poesia que estrebucha
Em mim
Para quem não tem notícia, convém lembrar que este projecto editorial teve uma 1ª série de livros, num total de 10, com assinalável sucesso público. Isso constituiu razão mais do que válida para que a DRCN e a editora Caixotim apostassem na continuação do projecto editorial, avançando para uma 2ª série de roteiros, iniciada com o livro
Viajar com… Pina de Morais.
Entretanto, nesta nova série, já foram publicados roteiros semelhantes sobre António Nobre, Domingos Monteiro e o presente Tomaz de Figueiredo. Aguardam-se os esperados volumes sobre António Feijó, Pedro Homem de Melo e Raul Brandão.
E não será difícil acrescentar mais alguns escritores do Norte de Portugal, a fim de perfazer uma dezena para esta 2ª série. Arriscaria mesmo, a título pessoal, sugerir alguns nomes e diferentes épocas e de distinta geografia nortenha – por exemplo, um ou dois dourienses, um alto-minhoto e um transmontano.
Concretizando, a apenas a título de exemplo:
Eugénio de Andrade, poeta contemporâneo ligado ao Porto; ou
Agustina Bessa-Luís (natural de Vila Meã, Amarante);
Francisco Teixeira de Queirós, o Bento Moreno, contemporâneo de Camilo e de Eça de Queirós (natural dos Arcos de Valdevez); e
António Cabral (natural de Castedo do Douro, concelho de Alijó, Vila Real, recentemente falecido). Todos eles possuem obra extensa, de valor estético reconhecido e intimamente ligada à região em que viveram. Mas outros há, dignos de um roteiro semelhante: António Pedro, Luís Forjaz Trigueiros; Ruben A.; António Correia de Oliveira; João Verde, entre outros.
3. Obra: Viajar com… Tomaz de Figueiredo
Amplamente ilustrada pela mão da designer gráfica Helena Lobo, o texto desta obra é escrito a seis mãos, pois nos surge assinado pelo Sr. Dr. João Bigotte Chorão, Srª D. Maria Antónia Figueiredo (filha do escritor) e pela Srª DrªAlbertina Fernandes.
Dentro dos limites de um roteiro literário desta natureza, a obra introduz-nos na época e na atmosfera em que o escritor viveu; insere-nos visualmente na paisagem deste denodado autor, nas suas obsessões temáticas, na fulgurância do seu espírito.
Deve-se afirmar, desde já, que se trata de uma obra atraente e exemplarmente bem escrita. Com efeito,
Viajar com... Tomaz de Figueiredo é um belo e sugestivo convite à viagem pelos meandros do escritor e da sua obra, num amplo sentido do termo “viagem”:
i)
viagem pelas suas paisagens geográficas e afectivas (cores, sons, cheiros, atmosferas, paixões, passatempos), por aqueles espaços que o inspiraram e naturalmente se projectaram na sua escrita impressiva e visualista;
ii) por isso mesmo, é também uma
viagem pela sua escrita (poética, narrativa, teatral, etc.), redescobrindo o prazer e o proveito da leitura de trechos das suas obras;
iii) é ainda uma saborosa viagem pela língua portuguesa, tão amada pelo autor, na conhecida veneração pelo idioma pátrio e pela sua riqueza (nem outra coisa se poderia esperar no autor do ímpar
Dicionário Falado, escritor de genealogia camiliana ou aquiliniana);
iv) finalmente é uma viagem ao interior de si mesmo, por parte de quem aceita encetar este tipo de roteiro, físico-geográfico ou apenas mental, enriquecendo a viagem da nossa existência.
Não se pense, apressada e redutoramente, que, perante a obra de Tomaz de Figueiredo, estamos apenas perante um escritor regional ou uma literatura regionalista. Bem pelo contrário: quanto mais genuinamente local e quanto mais intensamente humana, mais universal se torna essa obra. Não lembrava Miguel Torga que o universal é o local sem paredes? Isto aplica-se inteiramente a Tomaz de Figueiredo, escritor polígrafo e exigente, que não pactuava com facilitismos nem modismos; muito menos com compadrios e autopropagandas.
Ora, este roteiro literário tem o grande mérito de nos convidar à viagem e à fruição por uma obra admirável, enraizada nesta terra, uma obra ainda por descobrir em toda a sua grandeza.
Trata-se de uma obra que nos aparece polarizada entre o pícaro e o elegíaco, entre a mais satírica truculência e a mais lírica sensibilidade, ora usando o chicote da sátira contundente e impiedosa, não poupando no retrato e na denúncia de mazelas privadas e públicas; ora se mostrando um escritor perpassado de nostálgica saudade e de comovente ternura;
Enfim, o leitor de Tomaz de Figueiredo confronta-se com uma obra singularizada por uma escrita de múltiplos registos, mas sempre de apurado rigor estilístico, entrelaçando um temperamento romântico com uma vigiada disciplina clássica, pois se trata de uma expressão enformada pela leitura dos mestres clássicos (como o admirado António Vieira), bem como pela audição do precioso e castiço linguajar do povo.
É neste espírito memorialístico que a leitura de um autor como Tomaz de Figueiredo é sempre uma revisitação apaixonada, contrariando a inevitável erosão do tempo e da memória. Recorde-se, por exemplo, o conhecido soneto “Adeuses” de
Poesia II:
Casa à beira do Vez - quem tem, sem ter -
onde passava noites à lareira,
jogando a bisca ou Vieira a ler,
chorando, às vezes... com a fumaceira...
Casa onde via bagos lourescer
e escrevia aos olores da laranjeira,
onde cuidou em paz vir a morrer
ao embalo da fonte cantadeira...
Casa do Amor, do Sonho e da Lembrança,
do Sempre e das Meninas Tias Velhas,
de falsos com fantasmas, cacaréus...
Casa das tropelias de criança
e que não mais há-de abrigá-lo às telhas,
Casa de Avós, perdida casa: – Adeus!
4. Autor: Tomaz de Figueiredo
Tudo isto ganha uma enorme acuidade e pertinência quando estamos perante um autor cujo génio criativo – obsessiva e dramaticamente autobiográfico, plasmado em quase quatro dezenas de títulos –, está profunda e afectivamente enraizado em determinada realidade humana, social e ambiental.
Para usarmos as palavras do escritor, estamos diante de um universo tecido de recordações vivas no querido “rio da lembrança”; diante uma palavra enformada por um “universo lírico e viril”, indissociável de um percurso existencial, vivido com intensidade. Por tudo isto, assume enorme expressão em Tomaz de Figueiredo a mitificação do passado, revisitado nostalgicamente como idílica idade de ouro, paraíso perdido de bens queridos e de afeições, contraposto à censurável mediocridade do presente:
Literariamente, nasci livre. Abraçado a esta liberdade, minha luz e minha cruz, irei até que feche os olhos, se tiver quem mos feche. E penso ainda, questão de querer (...), tornar-me lá à minha casa do Minho – hoje casa de fantasmas –, aos meus horizontes do rio e de penedos, aos meus limoeiros e laranjeiras, ao meu retiro entre buxos, à minha fonte só minha, ao meu silêncio que assombram vozes antigas. (Vida de Cão, 1968)
Para conhecer este escritor poderoso e irreverente, é necessário, por isso mesmo, viajar pelas variadas circunstâncias da sua vida; pela sua casa e pelas suas memórias; pelas suas relações pessoais e literárias; pelas suas paixões (a família e os amigos, a caça e a pesca) e pela obra deste contemporâneo da geração da Presença, movimento retratado no romance Nó Cego, escondendo-se ele próprio sob a máscara da personagem Francisco de Sá.
Deste modo, qual empático anfitrião, Tomaz de Figueiredo convida-nos aqui a viagens no seu reino literário e afectivo. Porque a viagem pela sua escrita tensa e passional, às vezes expressionisticamente agónica e dolorida, desencadeia em nós ora a emoção, ora gargalhada sadia, mas nunca a indiferença ou a apatia.
Nascido em Braga, em 1902, é na terra dos Arcos de Valdevez que lança raízes, “terra sua pela memória e pelo amor”. E é também na sua terra dos Arcos que, depois de muitas viagens e andanças, foi enterrado, em 1970, cumprindo-se a sua vontade expressa.
Esta sessão de lançamento do livro ocorre, oportunamente, na Casa de Casares, que foi de Tomaz de Figueiredo (1902-1970), afinal a casa-memória de um escritor dotado de notável personalidade e capacidade criativa, paladino quixotesco da língua, da indignação e da ternura.
Quando falamos de um escritor, a sua casa é o seu castelo e porto de abrigo, o centro do seu universo imaginário, o espaço sagrado do seu labor e dos seus afectos. Por isso, faz todo o sentido evocar uma conhecida passagem de Tomaz de Figueiredo em Viagens no meu Reino, bem representativa da importância que o “espírito do lugar” (genius loci, como diziam os latinos) assume na obra deste talentoso e obnubilado escritor:
Morro de amor pelo meu pátrio Minho,
pela vila dos Arcos, pela Casa
de Casares, onde a minha infância dorme,
onde esperei, feliz, envelhecer,
escrevendo mais livros, sempre livros,
onde cuidei morrer e, como Goethe,
pedindo luz e luz, sempre mais luz,
de janelas rasgadas sobre o Vez
Entre os factos mais salientes que, nos últimos anos, têm contrariado um quase silêncio, injustificado e ignorante, em torno da notável obra de Tomaz de Figueiredo, destacam-se:
i) A reedição, em vários volumes, da obra do escritor pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda no âmbito da colecção “Biblioteca de Autores Portugueses”.
ii) A publicação na mesma editora do Estado, de uma apreciável e insubstituível introdução crítica, da autoria de João Bigotte Chorão, em 2002, conhecedor aprofundado de Tomaz de Figueiredo.
iii) As comemorações do I Centenário do Nascimento do escritor, com destaque para as jornadas Culturais Tomaz de Figueiredo, em 2002, de que resultou a publicação de um volume de estudos críticos – Tomaz de Figueiredo, No Primeiro Centenário do Nascimento, Braga, Lions Clube de Braga, 2003).
iv) Complementarmente, o Colóquio evocativo do escritor que ocorreu na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, no mesmo ano celebrativo de 2002, com a presença de reputados investigadores.
v) Mais recentemente, também na sequência de um Colóquio na Universidade de Aveiro, o Departamento de Línguas e Culturas deu à estampa o volume de estudos Tomaz de Figueiredo, sob a coordenação do Prof. Doutor António Manuel Ferreira.
vi) Por último, a recente publicação do roteiro poético-afectivo de Tomaz de Figueiredo, da autoria do jornalista Antonino Cacho.
Na sequência destas iniciativas, outras não menos meritórias se impõem, no sentido de manter viva a memória de uma obra notável e de assim contribuir para o impulso da sua dinamização, tais como:
1) a continuidade da publicação integral dos escritos deste autor, com destaque para os textos ainda inéditos;
2) a realização de novos colóquios sobre a obra do escritor, matéria prima para muitos e diversos estudos;
3) a constituição de uma actualizada e dinâmica página Web sobre a figura e obra do escritor, proporcionando informações e documentos para leitores e investigadores interessados em qualquer parte do mundo (incluindo aí a digitalização de iconografia, de manuscritos autógrafos, de textos críticos essenciais, etc.);
4) a regular dinamização do já instituído Prémio Nacional Tomaz de Figueiredo, com o apoio directo de uma instituição local;
5) a implementação de variados programas pedagógicos que possam motivar públicos juvenis em idade escolar (desde visitas à casa do escritor, realização de sessões dinâmicas de leitura de textos, e ainda concurso escolares);
6) a concretização de encontros, tertúlias ou serões, dinamizadores do conhecimento da obra do escritor entre públicos de várias idades;
7) enfim, a organização de frequentes roteiros ou itinerários culturais sobre a geografia literária e afectiva de Tomaz de Figueiredo, tendo como guia ou exemplo a obra que hoje se apresenta.
5. Valorização integrada do património
Para finalizar, impõe-se uma curta reflexão conclusiva. Já lá vai o tempo em que, a pensar especialmente na captação de um certo turismo externo, Portugal vendia a imagem de um país com sol e praias, sobretudo a sul. Hoje, o que manifestamente se impõe é a oferta de um rico turismo cultural, que alie, de modo integrado e sedutor, as mais diversas facetas do nosso património (histórico e arquitectónico, ambiental e paisagístico, artístico e literário, imaterial e gastronómico).
É certamente importante que o poder central ou autárquico invista em infraestruturas fundamentais como a rede de águas ou de saneamento, a rede viária, a saúde e a educação. Mas se não investir na área do património está seguramente a cometer um crime de ignorância perante o passado; e a hipotecar o presente e o futuro, na medida em que aliena um dos veios mais centrais da nossa identidade colectiva.
Só enveredando por esta via de defesa consistente do património oferecemos, interna e externamente, um produto genuíno e de qualidade assegurada, que cativa viajantes para reiteradas viagens. Ao mesmo tempo que, internamente e de um modo sustentado, cumprimos um dos mais nobres deveres de cidadãos empenhados, valorizadores da sua história: preservar e conhecer a nossa própria herança patrimonial, em toda a sua amplitude e variedade.
Pelo ano 2000, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Cência e Cultura), reuniu um vasto conjunto de conceituados especialistas para lhes solicitar as chaves do século XXI.
Ora, neste mundo cada vez mais complexo e perpassado de incertezas, em plena terceira revolução industrial e vivendo as consequências de uma crescente hibridização cultural; e sobretudo sofrendo novas formas de globalização económico-financeira, este fórum intelectual não deixou de abordar a questão do património, como bem comum, inestimável, pelo seu valor histórico, cultural, identitário, para toda a humanidade.
Também o património artístico-literário, nas obras imortais dos escritores, apresenta esta qualidade única: conferir espessura ao tempo; dar sentido à nossa existência.
Por isso, a palavra de ordem deve ser preservação e promoção. Nós somos utilizadores de um riquíssimo património, e não proprietários irresponsáveis. É também por isto que os escritores como Tomaz de Figueiredo nos devem merecer admiração; é por estas razões que nos devemos comprometer na divulgação da sua obra literária, como legado ou património comum, de enorme valor estético e cultural – para o conhecimento do mundo que nos rodeia; para o respeito da própria língua; e ainda para a experiência da nossa condição humana.
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(1) Já no passado, a pensar sobretudo em leitores estrangeiros espalhados pelo mundo, a FCG editara uma antologia de textos, em vários volumes, subordinados ao título genérico Portugal, a Terra e o Homem; volumes organizados por grandes áreas geográficas.
No volume organizado por David Mourão-Ferreira (1979), com autores representativos do séc. XX, na secção dedicada ao Norte, lá comparece um texto de Tomaz de Figueiredo (retirado de Uma Noite na Toca do Lobo), apresentado pelo reputado crítico e antologiador como “dos maiores prosadores deste século”, entre outros qualificativos não menos enobrecedores do escritor hoje evocado.
* Professor na UCP/FacFil, lecciona no Curso de EACs a Unidade Curricular de História da Arte Moderna