quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Orar, fotografar e partilhar!

Desde os tempos imemoriais a arte, a criação artística são uma mediação fundamental na relação do homem com o transcendente, nomeado de muitos modos e representado de muitas formas. O enigma e o mistério da vida, do mundo, da história, são transfigurados pela inspiração estética na potência do Invisível que nos fala, nos atrai, nos faz descentrar de nós para nos concentrar no Absoluto. João Paulo II, na célebre Carta aos artistas identificou a centelha divina que habita na criação artística: «Toda a autêntica inspiração encerra em si algum frémito daquele “sopro” com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação». Poderíamos acrescentar: toda a autêntica experiência estética participa também daquele “sopro”. Façamos nós também a experiência artístico-espiritual. Uma proposta de oração, com a fotografia, partindo do silêncio, da meditação e da contemplação. Antes da máquina, o olhar, a abertura interior ao mundo que me rodeia. De seguida, o registo fotográfico e a partilha.Entre o olhar e o fotografar há muitas similitudes. Quem não experimentou já olhar como quem fotografa? Mas agora, trata-se de fotografar não só a partir do olhar mas também a partir de uma atenta escuta interior. Esta actividade será orientada pelo Fernando Ribeiro (1º Ciclo/3º ano de Filosofia), um entusiasta da arte, sobretudo das possibilidades da fotografia, frequentador das iniciativas do curso de EACs. Decorrerá no fim-de-semana de 18 a 20 de Outubro, na Casa da Torre, em Soutelo-Braga.Para mais informações, contactar: 253310400 - e-mail: casadatorre@jesuitas.pt Nota: é necessário trazer máquina fotográfica digital e os respectivos cabos de ligação ao computador. Será útil para a partilha.

4 comentários:

Anónimo disse...

"Entre o olhar e o fotografar há muitas similitudes. Quem não experimentou já olhar como quem fotografa?"

Permitam-me comentar esta afirmação.

Na fotografia, a chamada "arte e ver" é fundamental para o processo criativo. O que distingue os bons trabalhos dos trabalhos medíocres ou mesmo maus, é precisamente a capacidade de observação de pormenores que escapam à maioria dos seres humanos. Um dos exercícios de qualquer fotógrafo, obrigatório e perene, deveria ser o de observar a realidade que o rodeia, na busca dos pormenores menos óbvios, na busca do enquadramento "inatingível". Esta prática regular de observação, diária, constante, fará com que o visor da câmara fotográfica seja o prolongamento do olho humano, ttransferindo-o da memória para o silício, num processo que disponibiliza a nossa interpretação para o domínio do partilhado e, por essa via, sujeito a diferentes interpretações.

Anónimo disse...

O comentário do Paulo Pinto é deveras interessante ao colocar em evidência a qualidade do fotógrafo enquanto observador e da observação como garantia da qualidade da fotografia resultante.
Mas, será suficiente passear o olhar pelo exterior, pelas coisas, pela exterioridade, como se de um “olho viajante” se tratasse, sem rumo e sem destino?
Parece-me que o mais interessante da formação proposta pelo aluno Fernando – que bela iniciativa deste aluno da FacFil! – vai na linha de chamar a atenção para uma antecâmara do acto de observar o mundo, que é precisamente a antecâmara na qual cada um se vê a si próprio: o que é que eu desejo que me inspire? a qual “sopro” estou eu aberto? Cuidar da subjectividade antes de pegar na máquina fotográfica… Trabalhar este domínio e transpô-lo para a criação artística não é fácil. Mas tenho todo o interesse em saber como é o “formador” o pensa realizar. Não poderia dar-nos conhecimento do programa desse fim-de-semana?
Desde já, parabéns por estas propostas.
Siarom

Anónimo disse...

O "olho viajante" de que fala, sem rumo, numa deambulação exterior, é o agente portador de uma realidade que é transposta para o domínio do subjectivo. Não pretendia significar que a fotografia é apenas um atestado da existência do que se dá a ver, uma reprodução mimética do real. Nem tão pouco caminhar pela via da inseparabilidade do referencial, embora menos obsessiva. Sou mais sensível à formalização arbitrária que ela encerra, à realidade interna e transcendente que, como diz e bem, denuncia a que sopro estou aberto.

Parabéns pela iniciativa.

Anónimo disse...

Foi bom ler os vossos comentários.
Creio que, na antecâmara, possa haver, também, um espaço para um deixar-se ser olhado.
Em relação ao programa:
Começará na sexta à noite com o jantar. O serão será, depois da apresentação, de silêncio para ajudar a que cada um possa fazer uma paragem "da vida corrida".
O dia de sábado será alternado entre tempo de silêncio (de oração), primeiro sem máquina fotográfica, depois com máquina fotográfica, com tempos de partilha, em que cada um falará da fotografia (ou das fotografias) que foi tirando.
Ainda durante o dia de Sábado, em princípio ao serão, será visualizado um filme (Ashes and Snow) de Gregory Colbert, fotógrafo canadiano.
Esta proposta terminará no domingo depois do almoço.
Não esquecer que é, na sua base, uma proposta espiritual, e de uma espiritualidade cristã.