quarta-feira, 2 de abril de 2008

Curso de Estudos Artísticos e Culturais participou em debates no Teatro Circo de Braga

No âmbito do IIº Festival das Companhias de Teatro Descentralizadas e do Dia Mundial do Teatro, que decorreram em Braga, de 25 a 30 de Março, a Companhia de Teatro de Braga (CTB) organizou um ciclo de debates em redor das questões da actividade artística e cultural, tendo neles participado diversas entidades da área das artes, da cultura, das autarquias e do ensino superior, entre as quais se contou o Curso de EAC’s da FacFil. A actualidade e pertinência das questões levantadas nesses debates, a vivacidade das discussões, o interesse que despertou nos intervenientes constituem o melhor testemunho do acerto das opções dos seus promotores. Parabéns à CTB e especialmente ao seu director Rui Madeira, a quem agradecemos também o honroso convite. Da nossa parte, foi com muita expectativa que propusemos a continuidade da reflexão que ali aconteceu, certamente mais orientada para a problematização da especificidade da situação artística e cultural de Braga e da sua região envolvente. A sintonia entre as diversas entidades presentes quanto a um núcleo de preocupações comuns, bem como a consciência de naturais divergências, as pistas de trabalho ali surgidas, e sobretudo o sentimento de que podemos/devemos fazer algo mais pela promoção e enriquecimento cultural da nossa Cidade e de toda a região, actuando de um modo mais concertado e estruturado, levou-nos a formular a proposta da constituição de um grupo de trabalho que integre as diversas instituições e entidades que intervêm no campo da arte e da cultura, um grupo de missão com o objectivo de agenciar sinergias, reflectir, coordenar e implementar uma estratégia de afirmação cultural da Cidade e da Região, num contexto onde, cada vez mais, o global se permuta com o local e com o regional. Tal como afirmámos, não nos parece que seja suficiente a implementação de parcerias “bilaterais” entre algumas das instituições e entidades que estão no terreno; isso já se vai fazendo com resultados claramente positivos. Mas é preciso passar a um patamar mais amplo do ponto de vista da representatividade e da inclusão, e mais exigente do ponto de vista funcional e de atribuição de competências, para que um efectivo trabalho em rede na área da arte e cultura tome forma e conteúdo. O Curso de EAC’s da Faculdade de Filosofia participou neste evento, sobretudo em duas sessões. A primeira delas foi dedicada às “Estratégias de financiamento, promoção e circulação dos bens culturais”, cuja introdução e lançamento do tema esteve a cargo da Profª. Ana Sofia Thenaisie Coelho, actual docente da disciplina de “Introdução às Técnicas da Conservação das Artes”. A outra sessão, dedicada ao tema “A contribuição da Universidade no processo de criação e fruição cultural” contou com a intervenção do docente da Faculdade Carlos Morais. Sendo ambas as questões de grande actualidade e particularmente problemáticas, complexas, e passíveis de abordagem desde múltiplos ângulos – só para referir alguns: política da cultura, desenvolvimento económico, opções orçamentais, paradigma cultural, estatuto e função da arte, formação de públicos, conceito de gosto e educação, projecto pedagógico, concepção de universidade – gostaríamos de convidar os nossos leitores a pronunciarem-se sobre elas. Para facilitar o diálogo e o comentário codificamo-las em duas perguntas: 1 - Quem deve financiar os projectos artísticos e culturais? O Estado? Os privados? Os próprios autores? 2 - O que pode e deve a Faculdade de Filosofia fazer para fomentar a criação e fruição cultural? Está aberto o debate. Formule as suas opiniões.

1 comentário:

Anónimo disse...

Qualquer país que se auto-define como “Democrata” - na acepção moderna e actual do que significa “Democracia” - toma como sua a bandeira da “ liberdade, igualdade e fraternidade “, e com ela o direito de todos os seus cidadãos à saúde, à educação, à habitação, à dignidade e à justiça.
Deste modo, a afirmação dos nossos governantes de que Portugal é uma Democracia implica, ou deveria implicar, a aceitação e o respeito pelos valores que a fundamentam. Isto faz com que, embora possamos reconhecer, por exemplo, que a igualdade só é possível até certo ponto, e que a liberdade implica a aceitação de regras que assegurem o convívio harmonioso entre todos os cidadãos; não seja aceitável que o Estado se demita da sua função enquanto garante do cumprimento dos valores fundamentais. A Educação é um desses valores e nela a Cultura e Arte são partes integrantes.
Assim, a minha resposta às questões colocadas é a seguinte:
1 – Os projectos artísticos e culturais deverão receber do Estado um apoio financeiro significativo. O Estado deverá assegurar, no orçamento para “Educação” e “Cultura”, verba que viabilize recursos humanos e técnicos suficientes. É visível o esforço que se tem vindo a fazer, a nível local, com a criação de espaços para fruição cultural e artística. Mas também não deixa de ser verdade que muitos desses espaços acabam por ser subaproveitados devido à falta de meios para os manter em funcionamento regular.
Os espaços deverão ser dinamizados, tornando-se “vivos”, “cativantes”. Nesse sentido é aceitável e pertinente que se dotem esses espaços com equipamentos sociais através de parcerias com privados. Sendo, também, um meio de financiamento. O fruidor deverá contribuir com um valor mínimo, simbólico. O objectivo último deverá ser o de atrair o maior número possível de público, criando o hábito da fruição artística e cultural, que como sabemos não tem feito parte do modo de viver da maioria dos portugueses.
2- A Faculdade de Filosofia deverá dar continuidade ao trabalho que tem vindo a fazer: estar presente, intervir, provocar, dinamizar, fazer-se parte crítica nos acontecimentos Artísticos e Culturais que vão acontecendo à sua volta. E formar pessoas capazes de acrescentar valor à nossa cultura, o que já faz.

Conceição Oliveira