O que pensaria o leitor se, de repente, o Ministério da Cultura decretasse a livre entrada nos museus, visitas totalmente de borla? Pois, em França, não sem muita polémica, tal medida acaba de ser implementada. Ela abrange apenas catorze museus e monumentos nacionais e durará seis meses.
A causa desta originalidade francesa não é a súbita generosidade financeira das contas públicas do Estado, nem o enriquecimento das instituições museológicas, mas sim a necessidade de investigar os factores que mais concorrem para a afluência do público aos museus, bem como a sua composição. Será - tal como alguns defendem - o custo/despesa dos bens culturais o principal obstáculo à "democratização do acesso à cultura"? O que pensa desta questão?
5 comentários:
Começo por realçar a importância da criação deste blog.
Penso ser um meio importante para a difusão e troca de ideias sobre diversas temáticas e, essencialmente, sobre assuntos que possam contribuir para o enriquecimento pesssoal de cada um.
Acerca da questão das entradas livres nos museus, apenas a percebo enquanto ferramenta para estudo acerca da afluência de público.
Fora deste enquadramento entendo que a entrada nos museus, assim como o acesso a outros bens culturais, deverá ter uma comparticipação do utilizador(à semelhança do que acontece em outra áreas fundamentais como a educação e a saúde).
José Bastos
É possível que pessoas menos sensíveis com o objecto artístico fiquem reticentes no que se refere a pagar uma taxa monetária para possivelmente fruírem da arte. Se a entrada nos museus for gratuita poderá acontecer uma maior adesão. Mas necessariamente ocorrerá uma maior abertura das pessoas ao mundo da arte? Do mesmo modo, poderá verificar-se uma fraca adesão (pois, se o ser humano não for ensinado a ter sensibilidade pela arte, como poderá glosar da arte?). Questiono: não será melhor, em primeiro lugar, educar para a arte? Quanto ao facto da entrada nos museus ser gratuita partilho das ideias de Sócrates no que se refere ao ensino. O ensino deveria ser gratuito. O ensino entre outros engloba cultura e arte. Logo, cultura e arte também deveriam ser gratuitos. O ensino, a cultura, a arte não têm preço…
Um bem haja pela brilhante iniciativa, a criação deste blog! Será por certo mais uma ferramenta de democratização e acesso ás realidades culturais!
Quanto á medida de "liberalização" do acesso gratuito aos museus em França pareçe ser excelente. Isto porque, numa primeira fase nos permitirá perceber se existe uma relação directa custo/ consumo relativa aos bens culturais culturais. "Esperemos para ver"!
GA
Não me parece que o custo dos bens culturais seja um obstáculo à "democratização do acesso à cultura".
O problema parece-me muito mais ligado à falta de políticas de ensino e sensibilização para a cultura e artes e pela crescente efemeridade da actual sociedade de consumo. A contemplação de uma obra de arte é hoje encarada pelas camadas mais jovens, e consequentemente o futuro da malha social no nosso país, como algo que pertence aos hábitos de uma minoria elitista. Falo, claro, na generalidade.
Não querendo fazer da síntese a tese, resumo numa frase o que penso ser o verdadeiro obstáculo:
A cada vez maior apetência para uma sociedade que cultiva o efémero, fácil e de questionamento desnecessário.
Concordo com o leitor José Bastos no que diz respeito à comparticipação do utilizador. Não é uma forma de exclusão, mas sim uma forma de fomentar esses mesmos acontecimentos culturais.
Não tenho dúvidas da justeza dos museus nacionais serem de entrada livre. Fazem parte dos nossos espólios culturais enquanto nações, sua utilização beneficia todos, os que lá vão de forma directa e os que lá não vão forma indirecta, como tal deveriam ter as suas despesas de exploração cabimentadas pelos orçamentos gerais dos estados na sua totalidade.
Seis meses parece-me no entanto curto, para a devida interiorização e operacionalização da medida por parte de uma camada grande de utilizadores, o efeito será consideravelmente maior ao fim de dois períodos escolares, por exemplo...
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