José Bastos, Director do Centro Cultural Vila Flor, de Guimarães foi um dos participantes no "Fórum Guimarães". Aqui fica uma síntese dos debates elaborada por este aluno, finalista do Curso de Estudos Artísticos e Culturais.
«O Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, acolheu nos passados dias 16 e 17 de Outubro o “Fórum Guimarães”.
Este Fórum centrou-se na, dificilmente repetível, oportunidade que Guimarães terá como Capital Europeia da Cultura em 2012 no que concerne ao que este evento potenciará ao nível do desenvolvimento de uma cidade europeia de média ou pequena dimensão.
Este Fórum pretendeu abrir linhas de discussão à volta do papel da cultura na transformação das cidades e regiões, ponderando o seu impacto na construção europeia e projectando modelos de cooperação entre os decisores políticos, as instituições públicas e a sociedade civil.
Em dois dias de intensa discussão, que envolveu reputados especialistas como Álvaro Domingues, professor universitário e investigador nas áreas do urbanismo e desenvolvimento regional e urbano; Bernard Faivre d’Arcier, director do Festival D’Avignon e presidente da Bienal de Lyon; Hugo de Greef, director artístico de Bruxelas Capital Europeia da Cultura 2000 e director do Flagey Arts Centre de Bruxelas; Paul Scheffer, professor de questões urbanas na Universidade de Copenhaga; Rolf Noras, responsável pela candidatura de Stavanger a Capital Europeia da Cultura em 2008; Sir Bob Scott, presidente do painel internacional da Comissão Europeia para a selecção e monitorização das Capitais Europeias da Cultura entre 2010 e 2015; Tom Fleming, especialista na economia criativa e planeamento cultural, entre muitos outros participantes, várias foram as questões abordadas acerca do que poderá e deverá ser uma Capital Europeia da Cultura e acerca da importância de tal designação para a transformação das cidades e regiões, em articulação com o legado que perdura para além da efemeridade do evento.
Cristina Azevedo, presidente da Fundação Cidade de Guimarães, referiu que Guimarães tem uma ideia muito clara acerca do que pretende, concretizando, em síntese, que uma nova cidade, que resulte de uma transformação social e da criação de uma micro-economia, é o desiderato de Guimarães 2012.
Paul Scheffer da Universidade de Amesterdão abordou a tensão que será provocada entre o património e a contemporaneidade, prevendo um conflito entre a lealdade às raízes e a tolerância em relação a pessoas e ideias novas. José Bastos, director do Centro Cultural Vila Flor, a este propósito, abordou a questão da programação artística, e da sua importância numa Capital Europeia da Cultura, como elemento catalisador do processo de mudança, do processo de transformação de pensamento, referindo que o conhecimento do território e o potencial do seu capital humano são fundamentais para, em respeito pelo peso da tradição e do património, construir um presente de contemporaneidade que tenha a capacidade de transformar a contemporaneidade de hoje na tradição de amanhã.
O que deve ser uma Capital Europeia da Cultura foi outro dos temas em discussão permanente. Deve ser apenas programação artística, boa programação artística; ou deve ser essencialmente um programa com vocação para o turismo cultural; deverá ainda ser um processo de regeneração urbana, económica e social com liderança cultural, como defende o projecto de Guimarães? Esta foi uma das questões que ficou sem resposta ou que teve várias respostas dissonantes. O que pareceu claro é que não existe um modelo de Capital Europeia da Cultura e que dificilmente se poderá chegar a esse modelo, considerando as especificidades de cada uma das cidades que acolherá o projecto e o seu patamar de desenvolvimento sustentado.
O que foi claro para todos os participantes é que a Cultura é um elemento fundamental no desenvolvimento local e regional e que as Capitais Europeias da Cultura são uma janela de oportunidade dificilmente repetível.
Em jeito de conclusão ficam três ideias que destaco pela importância das mesmas têm:
“Depois de toda a política, a capital da cultura tem de ser um projecto cultural e tem de ser entregue aos artistas para o tornar possível”, referiu Hugo de Greef, director do Centro Cultural Place Flagey, em Bruxelas, e antigo director de Bruges Capital Europeia da Cultura.
“Colocar a cultura no centro da vida política não tem apenas a ver com a criação de emprego e de prosperidade económica, mas também em utilizar o conteúdo cultural para transformar a Europa”, salientou Mahir Namur, da Associação Istambul Capital Europeia da Cultura.
“A cidade, tal como todos na Europa, vive a tensão entre o património e a abertura contemporânea, entre a lealdade às suas raízes e a tolerância em relação a pessoas e ideias novas mas esta é a essência da democracia viva”, disse Paul Scheffer, professor na Universidade de Amesterdão.»
Texto de José Bastos, Director do CCVF,
Aluno Finalista do Curso de Estudos Artísticos e Culturais